Shopping vira palco de venda de carro no país
Concessionárias em centros comerciais administrados pela Ancar Ivanhoe chegam a vender de R$ 2,5 milhões a R$ 5 milhões por empreendimento ao mês. Shoppings da Allos já têm 11 pop-ups e showrooms para o comércio de veículos
Próximo de datas comemorativas, como agora, o consumidor costuma ver um ou mais carros espalhados em corredores de shoppings, geralmente um sinal de que há promoções por ali.
O recado é o seguinte. Quem compra nas lojas do centro comercial tem a chance de concorrer a um automóvel, normalmente o modelo top de linha de uma marca desejada pela clientela.
Mais recentemente, o consumidor deve ter percebido que os veículos não estão somente em corredores, mas também em locais que se misturam com lojas de roupas, calçados, serviços.
Marcas como Volvo, Audi, Hyundai, GWM, Porsche, Jeep estão ocupando espaços de lojas que saíram ou diminuíram de tamanho e não apenas para expor, mas também para vender.
O movimento está sendo muito bem-vindo para as administradoras dos empreendimentos, pois é mais um setor que se soma na busca de atender aos desejos dos consumidores.
SEGUNDO LUGAR EM VENDAS
A Ancar Ivanhoe, uma das maiores gestoras de shoppings no país, sente o interesse cada vez maior de concessionárias de carros em ter lojas em seus empreendimentos.
Recentemente, uma concessionária da BYD, como exemplo, fechou contrato de cinco anos para instalar uma loja de 600 metros quadrados no shopping Nova América, no Rio de Janeiro.
A BYD também estará por um ano no Golden Square Shopping, em São Bernardo do Campo. As marcas Honda e Volvo estão ainda em outros shoppings da Ancar para expor e ou vender.
“Antes, os contatos eram de 30, 60, 90 dias para exposição dos veículos. Hoje, as marcas querem espaços maiores e por mais tempo para comercializar os carros”, afirma Antônio Horácio, diretor da Ancar Ivanhoe, que administra 24 shoppings em todo o país.
Os centros comerciais, diz, já ocupam a segunda posição na venda de carros no Brasil, atrás das lojas de ruas, de acordo com informações que obteve das próprias montadoras.
Nos empreendimentos administrados pela Ancar, diz Horácio, a venda média de carros por shopping que possui concessionárias é da ordem de R$ 2,5 milhões a R$ 5 milhões por mês.
A compra de um carro é uma decisão que envolve a família, afirma ele, e as lojas de carros em shoppings conseguem mostrar os veículos justamente em momentos de prazer.
“Em uma concessionária, o cliente vai com foco em preço. No shopping, as lojas têm mais tempo para mostrar o valor agregado dos veículos, os modelos que são tops de linha, e ainda conseguem trabalhar os aspectos sensoriais dos consumidores”, afirma.
Pesquisas indicam que quem decide se a família vai comprar um carro X ou Y, diz Horácio, geralmente, é a mulher, que, muitas vezes, resiste a ir a uma concessionária até quando a compra do veículo é para ela.
No shopping, ao contrário, diz, a mulher está sempre mais disposta a ir e é exatamente neste momento que as revendas de automóveis entram em ação.
POP-UP DA PORSCHE
Uma concessionária da Porsche inaugura neste mês no shopping Catuaí Maringá, em Maringá (PR), uma loja temporária (pop-up), por um período de sete meses, para expor e vender carros.
A revenda está se preparando para abrir a primeira loja na cidade e decidiu se antecipar com a locação de um espaço no centro comercial para iniciar contatos com potenciais clientes.
“Eles decidiram entrar antes na cidade para aquecer a presença da marca, conhecer e captar clientes”, afirma José Borges de Oliveira Neto, superintendente do shopping.
No Catuaí Maringá, três outras marcas, Volvo, Hyundai e GWM, já estão expondo os seus veículos, e ainda nesta semana deve entrar a Audi. Geralmente, o shopping faz a captação do cliente, que acaba concluindo a compra na concessionária.
“Os grandes anunciantes viram que não basta só ter campanhas de lançamentos em emissoras de televisão, mídias sociais, e têm investido em projetos especiais com foco em ‘branding’ experiencia”, afirma Rafael Saito, diretor-geral da helloo, braço de mídia do grupo Allos.
Resultado da fusão entre a Aliansce Sonae e a BrMalls, em 2023, a Allos possui espaços reservados para exposição e ou venda de carros em todos os seus 58 shoppings. Neste momento, existem 11 pop-ups, lojas temporárias, e ou showrooms nos empreendimentos.
“O setor de veículos já está entre os três maiores anunciantes em shoppings por meio de telas e exposição. Como muitas concessionárias não abrem aos domingos, as marcas estão vendo os shoppings também como uma oportunidade para mostrar lançamentos e vender”, diz.
Há cinco anos uma concessionária da Fiat disputa os clientes no meio de outras lojas no shopping Manauara, em Manaus (AM), em um espaço de 102 metros quadrados.
Ali, além de expor carros e captar clientes, a concessionária comercializa roupas e acessórios da marca. No local, cabem dois carros, que entram e saem de acordo com lançamentos.
“Há um interesse sim maior das concessionárias em expor os seus veículos, fazer cadastro de clientes, vender em shoppings, já que agregam um público qualificado”, afirma Leonardo Moretti, superintendente do Manauara.
Além da concessionária Fiat, o centro comercial loca atualmente espaços para exposição de concessionárias de outras três marcas, Honda, Ford e GWM.
Os shoppings, diz, agregam cada vez mais setores e serviços, como clínicas de saúde e estética, e se transformaram em palcos para lançamentos de produtos e também de carros”, diz.
MAIS RECEITA
“Os shoppings já não abrem mais mão de ter parte da receita vinda de exposição e venda de carros novos. Tem shopping vendendo dezenas de carros em um fim de semana”, afirma Marcos Hirai, sócio-fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).
Alguns empreendimentos já vivem há décadas a experiência de venda de carros em shoppings. Instalado no Centro Comercial Aricanduva, o Auto Shopping Aricanduva, localizado na Zona Leste de São Paulo, conta com 19 concessionárias de carros e motos, além de serviços.
BYD, Caoa Chery, Citroën, Fiat, GM, GWM, Honda, Hyundai, Jeep, Kia, Nissan, Peugeot, Renault, Toyota, Volkswagen são algumas das marcas que estão hoje no centro comercial.
A Royal Enfield, empresa multinacional indiana de motocicletas com sede em Gurgaon, inaugurou recentemente a maior concessionária da marca no empreendimento.
Para Hirai, todo esse movimento das concessionárias que não para de crescer em todo o país, além de gerar receita, também contribui para os centros comerciais reduzirem a vacância.
Os shoppings ouvidos pelo Diário do Comércio informam que a vacância já deixou de ser um problema há algum tempo, até porque o mix de setores e serviços aumentou, assim como é o caso do varejo automotivo.
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